Depois de 23 anos, Sérgio Rolim, condenado a 150 anos por liderar “Escritório do Crime”, é transferido para cumprir semiaberto em Fortaleza

Após passar 23 anos preso em regime fechado, o ex-bancário e comerciante Sérgio Brasil Rolim, condenado a mais de 150 anos de prisão por assassinatos e estupros de mulheres no Ceará, teve reconhecido o direito à progressão de regime e foi transferido para cumprir pena em regime semiaberto. A decisão gerou comoção na região do Cariri, onde ocorreram os crimes.

A transferência de Rolim foi realizada na madrugada da última sexta-feira, 4, da Penitenciária Industrial Regional do Cariri (PIRC), conhecida como “Tourão”, em Juazeiro do Norte, para uma unidade prisional em Fortaleza, onde há estrutura adequada para o cumprimento do novo regime. No semiaberto, ele poderá sair durante o dia para trabalhar ou estudar, com a obrigação de retornar à unidade prisional à noite.

Crimes e condenações

Sérgio Rolim é apontado como o mentor do chamado “Escritório do Crime”, uma organização criminosa que atuava no Cariri entre os anos de 2001 e 2002. O grupo é acusado de envolvimento em assassinatos, estupros, roubos de carga, tráfico de drogas e desmanche de veículos.

As investigações apontaram que ao menos sete mulheres foram vítimas de uma série de homicídios com características de extrema violência: todas foram violentadas sexualmente, torturadas e assassinadas, muitas vezes com os corpos mutilados ou incendiados. Em alguns casos, os crimes tinham motivação passional, em outros, tratavam-se de queima de arquivo, pois as vítimas conheciam os membros do grupo.

Sérgio Rolim já foi condenado pelas mortes de:

Ana Amélia Pereira de Alencar – 24 anos
Ricardo Guilhermino dos Santos – 18 anos e 8 meses
Edilene Maria Pinto Esteves – 28 anos
Telma de Sousa Lima – 21 anos e 4 meses
Maria Aparecida Pereira da Silva e Vaneska Maria da Silva – 32 anos e 6 meses

Ele também foi condenado por dois estupros, com penas de 12 e 14 anos, julgados em 2004 e 2005. Somadas, as condenações ultrapassam 150 anos de prisão.

Progressão de pena e posicionamento da Justiça

Rolim foi preso em maio de 2002, antes mesmo das primeiras condenações. Em 2024, atingiu o tempo necessário para solicitar a progressão de regime. Inicialmente, o pedido foi indeferido pelo Judiciário, que exigiu um exame criminológico. Após a realização do exame, com laudo favorável, o Ministério Público do Ceará mudou sua posição e passou a apoiar a concessão da progressão.

Defesa e condições da pena

A advogada de Sérgio Rolim, Daniela Mendes dos Santos, afirma que o ex-bancário nunca teve nenhum benefício penal, como saídas temporárias, e defende que ele está apto à ressocialização. “O intuito da lei é ressocializar esse indivíduo e trazê-lo gradualmente para o convívio social. Sérgio se encontra nesse momento apto, inclusive com laudos psicológicos avaliados pelo Estado do Ceará”, declarou a advogada.

A defesa também tentou que ele cumprisse o regime semiaberto no Cariri, onde vive sua família, e onde poderia contar com apoio em caso de problemas de saúde. No entanto, como a região não possui unidade compatível, foi decidida a transferência para a capital Fortaleza.

O “Escritório do Crime” e a atuação no Cariri

De acordo com os inquéritos policiais, Sérgio Rolim não agia sozinho. Em depoimento, ele indicou a participação de cerca de 30 pessoas na organização. O grupo operava como um consórcio criminoso: enquanto alguns membros assassinavam mulheres, outros se envolviam com tráfico, desmanche de carros e roubos de carga.

A vice-presidente do Conselho da Mulher Cratense, Mara Guedes, destacou que os assassinatos representam uma marca profunda da violência de gênero na região: “A crueldade era quase sempre igual: mutilações, corpos queimados. Essas mulheres representam a marca presente e cruel da violência aqui no Cariri”, afirmou.

Ainda há processos em andamento relacionados a outros envolvidos no grupo. Um dos acusados faleceu durante o processo, enquanto dois tiveram os crimes prescritos. Outro réu, Damião Laurentino de Sousa, ainda aguarda julgamento.

Por: Redação Caririensi

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