Déficit de creches em Juazeiro do Norte transforma em sonho distante o fim de jornada dupla de trabalho

Imagem: Reprodução/ Redes Sociais 
Por Sued Carvalho 
O mês de Março foi consagrado como o mês da mulher, porém boa parte das homenagens típicas da época são mera fraseologia, sem qualquer conteúdo e totalmente contraditórias com a prática política cotidiana. Em Juazeiro do Norte isso é tão costumeiro quanto no restante do Brasil.
A violência da mulher não se dá apenas nos relacionamentos, não é apenas de natureza física e psicológica, é também estrutural. A chamada jornada de trabalho dupla é uma das violências mais normalizadas contra as mulheres. O que é a jornada de trabalho dupla? As mães, percebidas socialmente como principais responsáveis pelos filhos, fica o maior ônus de cuidar das crianças e da casa, cabendo ao pai maior flexibilidade para ir ao bar “relaxar” com os amigos ou jogar futebol no fim de semana.
A situação descrita no segundo parágrafo se dá em famílias heteronormativas que contam com os dois genitores, em famílias onde a mãe cria sozinha os filhos a situação é ainda mais grave, pois não há sequer flexibilidade, toda a responsabilidade sobre a mulher.
As mães, portanto, trabalham fora de casa, em um emprego e regular e, quanto chegam, enfrentam outra jornada: A do cuidado da casa e dos filhos. Chamadas de heroínas por aplicarem tão hercúleo esforço, as mulheres se tornam cronicamente cansadas e são privadas de fazer faculdade ou, em casos de gravidez na adolescência, terminar os estudos.
Essa retórica de heroicização da mulher em jornada de trabalho dupla ajuda a naturalizar essa violência. A jornada de trabalho dupla deve ser superada.
Estratégias como lavanderias públicas e creches em tempo integral, que permitam a mulher socializar parte de seu trabalho, de forma que possa focar em si por algumas horas do dia, são importantíssimas para a saúde das chefas de famílias que, por sua vez, é vital para a saúde das crianças sob sua responsabilidade.
Juazeiro, no entanto, fica devendo nesse critério. Com um índice de necessidade de creche (INC) de 53, 60% segundo dados da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal em seu relatório Primeira Infância Primeiro, nossa cidade tem cobertura de creches abaixo da média nacional, de 36, 17%.
Os Planos Nacional, Estadual e Municipais de Educação estabelecem que os municípios universalizem a cobertura de creches e ofertem, em 50% dos estabelecimentos, o tempo integral. Juazeiro do Norte está bem distante disso. Não é possível falar em uma cidade mais segura e acolhedora para com as mulheres sem discutir a socialização do trabalho doméstico.  
Chefas de família com jornada de trabalho dupla são mães dedicadas e merecem todo o crédito, mas levam uma carga muito pesada que não podemos deixar apenas em suas costas, a responsabilidade pelas crianças não é apenas da mãe, mas também de toda a sociedade. É urgente que nossa cidade assuma esse papel com seriedade.

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