Imagem: Reprodução/ Redes Sociais
Por Sued Carvalho
Dia 08 de Março, o dia da mulher, data onde refletimos sobre o papel das mulheres, em sua diversidade, na sociedade brasileira, sobre as conquistas desse imenso grupo e sobre seus persistentes desafios.
No Cariri chegamos a mais um dia 08 de março tendo percorrido um caminho marcado pela violência. Os primeiros meses de 2023 já acumulam 27 casos de feminicídio, tendo um deles vitimado até mesmo a presidenta da câmara municipal de Juazeiro do Norte, a vereadora Yanny Brenda. O Ceará não mata apenas mulheres cis, diga-se de passagem, é o Estado que mais assassina mulheres trans no Brasil que, por sua vez, é o país que mais mata mulheres trans no mundo.
Essa ideia generalizada de submissão do feminino, profundamente enraizada em nossa sociedade, vem do papel reservado a mulher no sistema capitalista. Para as famílias mais abastadas a esposa é a virtuosa mãe dos herdeiros da fortuna, nas famílias mais pobres é a genitora de novos trabalhadores e trabalhadoras. Nas duas situações a mulher é vista como propriedade, objeto de um homem e o amor ganha contornos utilitaristas.
A mulher, portanto, é vista na sociedade capitalista como propriedade, como um meio de produção de herdeiros ou trabalhadores/trabalhadoras, sendo valorizada e tida como respeitável apenas quando se submete a esse papel. Mulheres que não desejam ter filhos, não desejam casar ou tem vários parceiros são taxadas dos piores palavrões e impropérios.
As mulheres trans sofrem também as consequências desse processo, pois tem sobre si diversos padrões de femininidade impostos e se veem pressionadas a reproduzir esses padrões para que possam ser validadas como “mulheres”, porém sempre vistas pelos homens e pela sociedade machista como mulheres pela metade, pois não podem, em tese, se reproduzir. A mulher trans, portanto, vista como incompleta, sem o dom “redentor” de produzir prole, é percebida como mero objeto sexual, relegada muitas vezes a prostituição, sem espaço no mercado de trabalho e sento vítima de brutal violência direta.
Vemos, portanto, que o problema da violência contra a mulher é estrutural, está nas nossas instituições, nos nossos costumes, nas nossas expectativas e nos papeis sociais que somos ensinadas e ensinados a reproduzir. Para mudar essa situação é preciso mudar a estrutura, é necessário repensar nossas relações econômicas e de trabalho, não é possível transformar uma ideia sem transformar primeiro a realidade material da qual essa ideia se origina.
As tarefas de longo, prazo, no entanto, não devem secundarizar as tarefas imediatas. É necessário lutarmos por políticas de defesa da vida das mulheres, pela universalização das delegacias da mulher e das casas de referência, assim como pela socialização do trabalho materno através da construção de creches em tempo integral em todos os municípios e redução da carga horária de trabalho para que a mulher possa ter mais tempo para estudar e desenvolver sua autonomia.
A luta pela emancipação feminina é urgente e envolve um projeto que abarque medidas de curto, médio e longo prazo.