POBRE, PRETA, ANALFABETA E MULHER: Maria de Araújo a “SANTA” sem túmulo

Aos 25 anos de idade, a vida da beata Maria de Araújo mudou radicalmente após receber das mãos do padre Cicero a Comunhão durante uma celebração na capela de Nossa Senhora das Dores, cuja Hóstia transformou-se em sangue na boca da “Beata”

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Agência Cariri Ensi

Nesta segunda-feira (17), completa 108 anos da morte de Maria Magdalena do Espirito Santo de Araújo, que ficou conhecida como a “Beata do milagre da Hóstia”. 

Nascida em 24 de maio de 1863 na povoação de Tabuleiro Grande, atual Juazeiro do Norte, Maria de Araújo fez sua primeira comunhão aos oito anos de idade, recebendo a Sagrada Espécie das mãos do capelão do lugar o padre Cicero Romão Batista.

Ainda menina, Maria de Araújo perdeu sua mãe, indo morar na casa do Padre Cicero e ficando sob os cuidados da irmã e da mãe do sacerdote. De saúde frágil, mas profundamente determinada não se abalava fácil.

Maria de Araújo tinha uma vida de oração e trabalho, ganhava seu próprio sustento trabalhando como artesã, costureira e quituteira, além de lavadeira. Desde menina tinha visões espirituais, dizia conversar com Jesus e por várias vezes recebia em seu corpo os estigmas da Paixão de Cristo, fato esse que por muitas vezes foi presenciado por diversas pessoas. Maria de Araújo também afirmou que por muitas vezes era tentada pelo diabo e que esse além de assumir diversas formas com a finalidade de lhe enganar, também a espancava, deixando por muitas vezes feridas.

Junto de outras mulheres piedosas do povoado Maria de Araújo participou de um retiro espiritual de vários dias, vindo a receber juntamente com as demais hábito franciscanos, fazendo os votos de castidade e de vida de oração. As mulheres que vestiam esses hábitos eram conhecidas por “beatas” e assim ficou conhecida a Maria de Araújo.

Aos 25 anos de idade, a vida da beata Maria de Araújo mudou radicalmente após receber das mãos do padre Cicero a Comunhão durante uma celebração na capela de Nossa Senhora das Dores, cuja Hóstia transformou-se em sangue na boca da “Beata”. Era dia 1° de março de 1889, primeira sexta-feira da Quaresma. O fato foi testemunhado por todos os presentes, que de imediato foi proibido por parte do padre de se divulgar tal acontecimento, o que não aconteceu e logo se espalhou por todas as partes.

A transformação das Hóstias em sangue na boca de Maria de Araújo continuou a se repetir por diversas vezes fazendo com que curiosos e romeiros viessem de diversas partes da Região do Cariri e e estados vizinhos para o Joazeiro.

Ao tomar conhecimento do que acontecia no povoado de “Joazeiro”, o Bispo do Ceará, Dom Joaquim José Vieira manda uma Comissão composta pelos padres Clycério e Antero e após averiguações in loco constataram que os fatos não tinham explicação e logo eram divinos. 

Não aceitando o resultado apresentado pela Comissão, Dom Joaquim compõe uma outra Comissão formada pelos padres Alexandrino de Alencar e Manuel Cândido, que seguindo as recomendações de Dom Joaquim disseram que os fatos não passava de embuste, rendendo ao padre Cicero, a suspensão de suas ordens sacerdotais e a Beata Maria de Araújo uma vida de martírio e perseguições sofrendo torturas e sendo obrigada a sair do povoado.

Uma Comissão de médicos também estiveram a observar os fenômenos ocorridos e após minuciosa analise, concluíram não existir explicações humanas para o que acontecia com a “Beata”.

Com fama de lugar onde Cristo veio derramar seu Sangue, o povoado cresceu drasticamente tornando-se município em 1911.

No final de 1913 e início de 1914, Juazeiro do Norte, estava vivendo uma verdadeira guerra, cujas tropas do então governador do estado do Ceará, Franco Rabelo, avançava em marcha na direção do município, com a finalidade de destruírem o lugar. Chegando em Juazeiro, uma multidão de romeiros oriundos de diversos lugares do Nordeste, estavam a espera das tropas “rabelistas”, e após diversos dias de combate, os romeiros derrotaram as tropas do governador. O dito combate, ficou conhecido como “Sedição de Juazeiro”.

Em meio ao combate, a Beata Maria de Araújo, encontrava-se bastante enferma, vindo a falecer no dia 17 de janeiro de 1914. Testemunhas de sua morte relataram que a “Beata” chegou a oferecer sua vida se aquela guerra acabasse o que aconteceu alguns dias depois de sua morte.

Dezesseis anos após sua morte, no dia 22 de outubro de 1930, o então pároco de Juazeiro, o Monsenhor Lima, mandou abrir o túmulo de Maria de Araújo, no interior da capela do Socorro, local onde estava sepultada, mandando sumir com seus restos mortais da “Beata”, que até os dias de hoje é sem dúvida o maior mistério de Juazeiro. 

Pobre, preta, analfabeta e mulher, Maria de Araújo, foi sem dúvida alguma, vítima de uma sociedade machista e preconceituosa, que não aceitava que o Divino fizesse em uma criatura tão a margem da sociedade, tão grandes feitos. A História, a Igreja e o Povo de Juazeiro ainda tem uma grande dívida com Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo, que mesmo em meio a tantas sansões e perseguições que viveu em vida e após a sua morte, ainda resiste na memória e na boca daqueles que não permitirá que seu nome seja apagado.

Esse é um pequeno tributo que o Portal de Noticias Cariri Ensi, faz a mais ilustre filha de Juazeiro do Norte. Salve, Maria de Araújo, 108 anos de eternidade!

  

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