Nove de cada 10 mortos por Covid-19 no Ceará desde março de 2021 não tomaram nenhuma dose da vacina

Com grande número de imunizados no Estado, uma das dúvidas dos últimos meses é a de quem são as pessoas que estão morrendo ou sendo internadas com a doença

Foto: Fabiane de Paula

O acompanhamento da imunização comprova aquilo apontado por cientistas e demais profissionais da saúde desde o início da campanha: as vacinas contra a Covid-19 reduzem muito as mortes, internações e quadros graves da doença. No Ceará, 92,8% das vidas perdidas para o coronavírus foram de pessoas sem nenhuma dose de imunizante – entre março e novembro deste ano.
Isso quer dizer que 10.893 cearenses perderam a vida sem ao menos ter recebido a primeira parte da imunização.
Além disso, o número de internações também é maior entre os não vacinados: 28.790 (91,8%) pacientes precisaram de assistência em unidade de saúde.
Os dados são da plataforma Info Tracker, desenvolvida pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), com recorte de informações sobre o Ceará e Fortaleza tabulados a pedido do Diário do Nordeste.
Os pesquisadores utilizam o Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep Gripe), do Ministério da Saúde. O controle considera os números até as duas primeiras semanas de novembro – já que o restante ainda não foi disponibilizado.
Todos os casos foram confirmados oficialmente e não entraram para a contagem os pacientes apenas com suspeita da doença.
Foto: Thiago Gadelha

Ao todo, 11.732 pessoas foram internadas e morreram em decorrência da infecção pelo coronavírus. Sem nenhuma dose da vacina, 10.893 (92,8%) perderam a vida para a doença. Entre as mortes, 519 pessoas (4,4%) estavam parcialmente vacinadas – ou seja, ainda não haviam recebido a segunda dose da vacina.
Os menos atingidos foram os indivíduos com a imunização completa, seja por duas aplicações ou vacina de dose única, com 320 mortes (2,7%) no período analisado.
Com o aumento da população vacinada no Estado, os índices sofrem consecutivas quedas e evidenciam a eficácia da imunização.
“Nada além daquilo que a gente já esperava: o efeito da vacina. Quem ainda não vacinou, por favor, vá vacinar, porque levanta-se muito o questionamento agora com a questão da dose de reforço”, destaca Marilaine Colnago, coordenadora da plataforma Info Tracker.
Foram 3.803 (97,4%) pessoas não vacinadas mortas pela Covid-19 em março deste ano. Em outubro, foram 28 (46,7%). “No Ceará, o total de óbitos de outubro equivale a 1.5% do total de óbitos que teve em março”, frisa.
“Então, por mais que essa proporção (de pessoas vacinadas mortas) comece a aumentar ao longo do tempo, porque temos mais vacinados do que não vacinados, a redução do total de óbitos é muito grande”, analisa Marilaine, também doutora pelo programa de pós-graduação em Ciências da Computação e Matemática Computacional do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP.
COM MAIS VACINAS, MENOS LEITOS SÃO NECESSÁRIOS
 
Os leitos de unidades de saúde do Ceará receberam 31.372 pacientes por Covid-19 no período analisado. Destes, 28.790 (91,8%) não receberam nenhuma dose da vacina. Outros 1.160 (3,7%) estavam parcialmente vacinados e 1.422 (4,5%) haviam recebido as duas doses.
Quando se destaca a situação dos não vacinados, em março, 96,0% das internações eram de não vacinados – número que chegou a 62,6% em outubro. Nas duas primeiras semanas de novembro, o índice está em 34,8%.
Foto: Kid Júnior

“É muito importante ressaltar essa informação para a população, porque a vacina está sendo administrada exatamente para evitar essas mortes e, como a grande maioria foi a óbito por não ter se vacinado”, analisa a médica infectologista Mônica Façanha.
As pessoas podem não ter tido acesso à informação da vacina disponível, a morte pode ter sido antes delas terem tido a oportunidade, mas pode ter sido porque elas não acharam importante se vacinar
                                                         MÔNICA FAÇANHA
                                                          Médica infectologista

A especialista concorda que o balanço está “confirmando, na prática, o que era esperado: a vacina realmente reduz os óbitos, internações e casos graves”. Agora, a preocupação está entre o grupo que permanece sem acesso às vacinas. 
“As pessoas não vacinadas têm uma multiplicação do vírus muito maior, ficam transmitindo por mais tempo e tem uma chance maior de gerar essas novas cepas”, acrescenta Mônica. Com isso, a preocupação é o vírus se alterar a ponto de não ser combatido com as vacinas existentes.
Para evitar um cenário de volta ao aumento dos casos, a infectologista destaca a necessidade de busca ativa e informações adequadas sobre o processo de vacinação. “Ter mais campanhas mostrando os benefícios que a vacina traz, porque a desinformação que tem tido é muito ruim. As pessoas têm medo de se vacinar e isso é péssimo”, frisa.
Procurada para comentar a pesquisa, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) destacou que os dados da pesquisa “reforçam o argumento da importância da vacinação como principal estratégia para reduzir a circulação viral, mas principalmente para diminuir internações e óbitos dos infectados com a doença”. 
A pasta também reforçou “o apelo à população para completar os esquemas vacinais e para tomar as doses de reforço”.
CENÁRIO DA CAPITAL
 
Os números de Fortaleza se assemelham, proporcionalmente, ao do Estado: 93,6% das mortes pela doença, entre março e novembro, foram de não vacinados. Assim, 6.474 pessoas do grupo morreram sem receber ao menos uma dose da vacina.
No período, 233 (3,6%) óbitos foram de pessoas parcialmente vacinadas e 118 (1,8%) eram pacientes completamente vacinados.
A queda com o avanço da vacinação reforça a ideia sobre o impacto da vacinação: em março, 98% das vítimas da doença eram não vacinadas e, em outubro, eram 50%. No começo de novembro, o índice estava em 10,0%.
Já as internações no período foram marcadas, em sua maioria, por não vacinados com 16.915 pacientes (92,7%). Os parcialmente vacinados foram 585 (3,2%) da demanda e os vacinados eram 743 (4,1%) dos pacientes na Capital.

Fonte: Diário do Nordeste

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