Incêndio no Edifício Joelma há 50 anos mudou regras de segurança predial

Apesar das melhorias nas regulamentações, o Brasil ainda carece de uma cultura de prevenção como observada em países desenvolvidos

Há exatos 50 anos, o incêndio no Edifício Joelma, hoje chamado de Edifício Praça da Bandeira, marcou uma virada histórica nas normas de segurança predial em São Paulo e no Brasil. A tragédia, ocorrida em 1º de fevereiro de 1974, deixou 181 mortos e mais de 300 feridos, revelando falhas estruturais e a ausência de medidas básicas de prevenção.

O Edifício Joelma, projetado pelo arquiteto Salvador Candia e concluído em 1972, foi alugado pelo Banco Crefisul. No momento do incêndio, ainda estava em processo de transferência do banco para o local. As condições internas eram precárias: salas pequenas, divisórias, móveis de madeira, pisos acarpetados e cortinas, sem isolamento entre os andares e sem escadas de emergência.

O incêndio teve início devido a um curto-circuito no ar-condicionado do 12º andar e se propagou rapidamente, alimentado por fortes ventos e pela falta de sistemas adequados de combate ao fogo. O prédio não possuía brigada de incêndio, e, no dia do ocorrido, os hidrantes estavam vazios, contribuindo para a tragédia.

A única escada central tornou-se uma chaminé, impedindo a evacuação eficaz do prédio. A falta de medidas de segurança, como escadas de emergência, saídas de evacuação, hidrantes operacionais e sistemas de alarme, somada à ausência de treinamento para situações de emergência, resultou em uma das maiores tragédias da história do Brasil.

O jornalista Adriano Dolph, autor do livro “Fevereiro em Chamas”, destaca que a tragédia do Edifício Joelma, juntamente com o incêndio no Edifício Andraus em 1972, foram os catalisadores para mudanças significativas nas regras de segurança predial em São Paulo.

Seis dias após o incêndio, o prefeito de São Paulo, Miguel Colassuonno, publicou o decreto 10.878, estabelecendo normas específicas para a segurança de edifícios na cidade. O decreto incluía regulamentações sobre rotas de fuga, suprimento de água, lotação máxima e materiais resistentes ao fogo. Além disso, exigia a implementação de sistemas de chuveiros automáticos contra incêndios (sprinklers).

O Código de Obras de São Paulo, de 1934, foi revisado após as tragédias, e a Coordenadoria de Controle e Uso de Imóveis (Contru) foi criada para fiscalizar instalações e sistemas de segurança em edificações. No entanto, ainda em 1981, outro incêndio no Edifício Grande Avenida evidenciou que mais esforços eram necessários.

O Edifício Joelma, após ser reformado e renomeado, agora atende às normas gerais de segurança. Medidas como escadas exclusivas de incêndio, equipes de brigada de incêndio, hidrantes operacionais e sistemas de evacuação foram implementadas.

Apesar das melhorias nas regulamentações, o Brasil ainda carece de uma cultura de prevenção como observada em países desenvolvidos, onde treinamentos regulares de evacuação são comuns. A especialista em segurança contra incêndios, Rosaria Ono, destaca a necessidade de uma mudança cultural e investimento em treinamentos para enfrentar situações de emergência.

Por: Redação Caririensi

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