Grupo acreditava que a virada do século traria catástrofes capazes de acabar com a humanidade
Imagens: Reprodução/ Redes Sociais
Na virada do último século, do XX para o XXI, diversas teorias sobre o fim do mundo ganharam destaque, sendo uma delas alimentada por uma seita baseada em Juazeiro do Norte, na região do Cariri, formada por seguidores fervorosos do padre Cícero. Esse grupo peculiar, autodenominado “aves de Jesus penitentes do padre Cícero Romão Batista”, voltou à memória do público graças a uma reportagem veiculada pelo programa “Fantástico”, que celebra seus 50 anos de existência.
Nessa reportagem especial, a repórter Renata Rodrigues, atualmente coordenadora de produção internacional da emissora, compartilhou sua experiência ao acompanhar de perto os eventos que envolveram essa seita singular. A jornalista relembrou como surgiu a ideia de apresentar a história desses religiosos à produção do “Fantástico”, durante uma reunião de pauta voltada para sugestões de matérias para a virada do milênio.
Com o apoio dos editores do programa, Renata foi designada para a missão de participar da celebração do Réveillon de 2000 ao lado dos membros dessa seita. Para se adequar aos trajes exigidos pelo grupo, conhecidos popularmente como “penitentes” ou “borboletas azuis”, devido às vestes azuis que usavam, Renata teve que providenciar às pressas um vestido azul longo e de mangas compridas, que, de forma curiosa, foi um manto de Nossa Senhora do acervo da Rede Globo.
A jornalista viajou para Juazeiro do Norte, onde a seita acreditava que a cidade cearense era uma “terra prometida”, associando-a às passagens do padre Cícero, indicando ser um lugar seguro para o fim dos tempos. Na noite de 31 de dezembro de 1999, ela acompanhou os religiosos até o cemitério da cidade, onde esperavam que o mundo chegasse ao seu fim durante a virada do ano.
O momento de expectativa passou sem que qualquer catástrofe ocorresse. A meia-noite chegou e passou, sem que o mundo fosse dizimado conforme acreditavam os membros da seita. Essa experiência vivida por Renata Rodrigues se tornou uma lembrança marcante em sua carreira e ajudou a consolidá-la como parte da equipe do “Fantástico”.
Crença
Os “aves de Jesus penitentes do padre Cícero Romão Batista” tinham crenças únicas e viviam de maneira bastante peculiar. Eles renegavam seus passados, rejeitavam a tecnologia, não usavam dinheiro e partilhavam um nome comum. Os membros do grupo eram conhecidos coletivamente como Maria Aves de Jesus, no caso das mulheres, e José Aves de Jesus, entre os homens.
Esses religiosos adotavam a castidade e evitavam festividades. Suas casas não tinham eletricidade nem água encanada. Eles percorriam longas distâncias em “missões de pregação” entre cidades vizinhas, carregando uma mensagem de fé. Suas rotinas eram marcadas por rituais de oração que duravam até cinco horas por dia, e o sono era regulado, seguindo a crença de que a noite era destinada aos animais.
A seita acreditava que o padre Cícero era a “reencarnação de Deus” e frequentemente acompanhavam missas de fora das igrejas. A profecia do fim do mundo foi supostamente revelada ao líder do grupo em um sonho pelo próprio padre Cícero.
Por: Redação Caririensi