Um novo comunicado divulgado por integrantes de facção de origem carioca revela que o motivo da cobrança é a crise financeira enfrentada pelo grupo
Foto: Halisson Ferreira
A parceria entre membros de facções criminosas e empresários do jogo do bicho avança no Ceará. Criminosos encontraram nessas loterias fonte de renda para recapitalizar o tráfico de drogas, readquirir armamento de grosso calibre apreendido em operações policiais, como a realizada na última sexta-feira em Fortaleza e outras 50 cidades do Estado, com 800 mandados judiciais.
No início deste mês de novembro, o Diário do Nordeste noticiou esquema milionário envolvendo ambos os lados. A prática continua e alcança ainda mais populares. A reportagem apurou que nos últimos dias criminosos passaram a cobrar diretamente dos terceirizados, daqueles que operam nas ruas com máquinas de apostas, cerca de R$ 200 para não tomarem o equipamento.
Um novo comunicado divulgado por integrantes de facção de origem carioca revela que o motivo da cobrança é porque: “o nosso estado está em guerra e infelizmente a caixinha não está tão forte”, se referindo à descapitalização do bando.
DISPUTA POR PODER
Uma fonte da inteligência da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE) conta que com as últimas 180 prisões de integrantes da organização carioca, o grupo precisou repensar em como financiar a si mesmo.
Nos avisos distribuídos nas redes sociais os criminosos ainda incitam o crime dizendo que é preciso “busca de recurso para nós começar a avançar nesta guerra” (sic) e alertando que a “a missão é breca as banca que não fecha com nós” (sic).
“As finanças deles ficaram mexidas e agora estão apelando para tudo. Estão novamente tentando o jogo do bicho. Foi muita gente presa neste meio, muitos intermediários. Devido à essas prisões dos líderes, eles têm medo de outra facção expandir no terreno deles e asfixiar a bocada de fumo que tinham conquistado”, destaca a fonte, que terá identidade preservada.
Nessa quarta-feira (24), diversas máquinas foram recolhidas na Capital. A reportagem teve acesso a um áudio no qual um homem explica que só em um dia foram recolhidas quatro máquinas por uma mulher, não identificada.
“A menina que veio pegar é quem comanda aqui a rua. Depois vieram aqui e disseram que ela ganha R$ 200 por máquina que recolher. A ordem recebida foi essa daí e por isso que ela levou”, narrou o popular.
“O jogo do bicho agora é a válvula de escape da facção para arrecadar. Se eles se fortalecerem com esse dinheiro vai aumentar o número de mortes no Estado”
COMO TUDO COMEÇOU
A negociata entre empresários de uma banca específica do jogo do bicho e liderança da facção carioca começou com uma reunião. A proposta, de início, era 25% da arrecadação da loteria para a facção, e em troca os criminosos fariam com que só aquela empresa pudesse atuar em determinadas áreas.
Há informação que o valor cobrado para outra banca poder atuar em um bairro da periferia, por exemplo, pode chegar a R$ 2 milhões. Quando não há acerto entre as partes, incêndios, ameaças, sequestros, homicídios são alguns dos crimes que podem ser consumados.
O Ministério Público do Ceará (MPCE) afirmou já estar ciente sobre a situação e que o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) investiga o caso, sem poder dar mais detalhes: “Cabe ressaltar que, ao final das investigações, as informações serão disponibilizadas para a imprensa”, disseram.
A Polícia Civil do Ceará informou por nota que nas situações com envolvimento de organizações criminosas o trabalho é conduzido pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco).
Fonte: Diário do Nordeste